quarta-feira, 7 de março de 2007

O Triste Fim de Paulo Clóvis Palerma

- Não, acho que deve ser mais divertido; Mais Bukowskiano... Sim, mais Bukoskiwz... ano...Bu o quê mesmo?! - indagou o editor de gravata borboleta e luzes no cabelo lustroso.

- Certo, senhor. Vou revisar o livro e fazer uns ajustes aqui e ali e...

- Coisa nenhuma, Palerma! Você está fora, entendeu? O-u-t!

- Mas senhor... Eu...

- Mas coisa nenhuma, Palerma... Você é o que nós, cultos editores, chamamos de “escória neo-romântica literária”! O mundo pede algo novo entende? Algo inovador! Não, você não entende. Você é muito antiquado para a minha editora. Afinal, que diabo de escritor lançaria seu livro aos 52 anos? Saia já fora daqui!

Palerma, ao sair cabisbaixo pela porta da editora que lhe fizera sonhar tanto, pensou:

- Talvez ele tenha razão, talvez eu seja muito antiquado... Yolanda sempre dizia isso quando eu lhe contava minhas primeiras aventuras sexuais de meia-idade. Ela sempre dizia “Eu fui a primeira mulher com quem você trepou? Cruzes! Paulo Clóvis, você é muito antiquado!” Mas acho que ela queria dizer tardio ou qualquer coisa que o valha. Ela tinha 62 e me largou pelo piscineiro que já limpava minha piscina há mais de 35 anos.

Palerma sempre fora um fracasso na maioria das coisas que fizera na vida. Seu nome verdadeiro era Paulo Clóvis Palermagiani. Seus amigos o chamavam de PC, por mais que seu único amigo fosse Pirata, seu fox paulistinha perneta de aproximadamente 42 anos; e seus inimigos o chamavam de Palerma, apelido ao qual já se habituara e, por sinal, insistia em encarar de bom grado o fato ser chamado de tal maneira.

Aos 32 anos passou para Jornalismo, Psicologia e Letras, mas acabou encontrando-se fatigado o suficiente para dormir por 5 meses seguidos, sendo jubilado por vagabundagem.

Aos 40, vivendo ainda com sua mãe, tentou a carreira literária. Comprou uma máquina de escrever Remington, 25 tabletes de benzedrina e toda coleção de Kerouac (incluíndo os livros em inglês & francês), Dostoiésvki (em russo idem!) entre outros. Passou um ano e meio trancado no seu quarto e só leu a introdução de Os Irmãos Karamazov, desistindo logo depois desse livro. Escreveu alguns contos sobre sua emocionante vida: quando deu seu primeiro beijo, fumou seu primeiro baseado, bebeu sua primeira cerveja sem álcool e tirou sua carteira de motorista (“tudo isso nessa esplendorosa época dos meus 40 anos” afirmou Palerma). De acordo com o próprio Palerma, ele descobriu, em um ano, a roda, o fogo e a mulher, abrindo as portas para uma nova vida na flor da idade.

Porém, um belo dia, sua Remington triturou Pirata que comia seu dever de casa do cursinho pré-vestibular. Palerma prometeu nunca mais tocar em seus textos e principalmente na maldita máquina de escrever. Do alto de um penhasco à beira da estrada, Palerma praguejou com a Remington na mão: “Que você se espatife lá embaixo e não cause mal a mais ninguém!” Mas quando Palerma ouviu o impacto da máquina, desceu imediatamente do penhasco e viu que ela não só destruira o seu Gurgel, mas que as teclas que voaram para todo lado, também atingiram ferindo mais de 46 ciganos que ali acampavam.

Logo depois do incidente, Palerma decidiu escrever um livro nietzschiano sobre carma e azar em restaurantes mexicanos. E foi ai que se deu mal, para variar, com o editor engomadinho e cult.

Palerma estava cansado e queria dar um basta nisso tudo. Decidiu que ia se jogar de cima do prédio, mas acabou caindo na varanda do seu vizinho que preparava um peru para a noite de Natal, dois andares abaixo. Para a sorte do peru, ele já estava morto. Quanto a Palerma, morreu enterrando sua cabeça os centímetros suficientes para morrer sufucado no peru.

Triste fim para Paulo Clóvis Palerma!

Um comentário:

disse...

Coitado! o texto é triste, porém divertido!
Não subestime seu trabalho, nunca.