segunda-feira, 30 de abril de 2007

Rotina; Nostalgia; Fim (ou começo)

As manhãs eram sempre as mesmas. Um sono breve mergulhado em sonhos loucos. Um despertar furioso e atrasado afogado por goles imensos de um café forte. Banho frio, roupas, escova de dente, creme dental... Tudo sobre os olhos cerrados atentos e luminosos do relógio de pulso; E toda ação desenfreada e insana fez o corpo do jovem esquentar enquanto corria para pegar o maldito ônibus que nunca o deixava fumar totalmente seu primeiro cigarro na manhã. Mais um “Bom dia!” sonolento que não se obteve resposta. “Mais uma manhã igual todas as outras” ele pensou. Sempre as mesmas pessoas, o mesmo motorista e o mesmo barulho estridente da catraca que periodicamente mastigavam seus ouvidos. Segue a vida na capital no vai e vem das pessoas nos ônibus cansados e enferrujados e dando uma boa espiada na janela se pode ver os seres feitos de panos e gravatas em seus automóveis dourados e novos passando lentamente nos olhos cansados do garoto. Tão fartos de tudo aquilo que nem ele mais se reconhecia como jovem. Maior idade alcançada, e quanta energia gasta em preocupações e desejos existenciais. Seus amigos de anos já freqüentam a universidade, dirigem os carros dos pais e vão aos bares universitários durante a semana. E você? Cursinho pré-vestibular, reprovação na auto-escola e somente passes de ônibus na carteira. A sociedade te expulsou como um andarilho que entra num restaurante chique pedindo apenas um copo d’água e agora você tenta se integrar novamente. “Estude que você consegue!” Diziam pais, amigos e professores. E foi o que ele fez. Entrou para um cursinho onde só conheceu vestibulandos enlouquecidos em serem como seus pais feitos de panos, gravatas e carros zero, professores desiludidos com suas vidas e ideais e pobres moças negras com duzentos braços que limpavam sem parar banheiros, pisos e escadas. Prosseguiu mesmo assim, carregando sua desilusão. Vieram os fins-de-semana e os amigos sedentos por prostitutas. Vieram litros e litros de uísque barato acompanhados de caneta e papel onde ele desesperadamente tentava entender sua tristeza com o mundo. Pouco lhe interessavam as garotas, as festas e as conversas debruçadas na mesa da cozinha com seus pais durante o almoço. E pra onde fora sua felicidade de infância? Talvez se fora com seus últimos pulos e piruetas de garoto. Ou fora quando viu que era necessário nesse mundo, uma função única e retilínea para que tudo funcione da mesma maneira (e como todos tentavam realmente seguir esse padrão e ser alguma coisa para suas mentes). A falta de um sentido para tudo aquilo lhe fez procurar. Assim, esqueceu suas apostilas e identidades do cursinho no banco do ônibus e desceu no ponto mais próximo. Desceu e apenas correu e correu. E sorrindo sem motivo continuou a correr, sumindo entre os prédios cinzentos e as buzinas. E para muitos, o garoto morreu. Talvez fora atropelado, seqüestrado, morto ao reagir a um assalto ou qualquer paranóia urbana que qualquer um é submetido a ter e obedecer. Enquanto isso o seu antigo cursinho pré-vestibular levantava um outdoor no centro da cidade com sua imagem e o transformava em propaganda.

terça-feira, 24 de abril de 2007

O assassinato da inspiração

A inspiração e toda vontade de continuar acabou. Foram consumidas pelas repentinas responsabilidades necessárias da vida e mastigadas pelo tédio. As linhas não surgem e o ódio retalha e queima meus pensamentos impressos por canetas no papel. Virei um ortodoxo literário, preocupado com cada parágrafo e com toda sua espontaneidade. Talvez nunca houvera espontaneidade, só um desejo forçado de escrever como meus mestres enlouquecidos. Mas eu sou só mais um (e talvez eles também). Nunca fui e nunca serei o que minha mente sussurrava nos vazios do meu crânio. Acreditei demais nos elogios da infância e nos devaneios da juventude. Que assim seja... Talvez eu seja só um poeta insano para mim mesmo e acho que isso já basta para meu ego enfurecido. Ou talvez a poesia seja a cerveja quente do bar que desce de maneira desconfortável, porém alegre para o boêmio. Escritores loucos e tristes como Bandini somos nós. E que sejamos assim, mergulhados em álcool e esperando o fim da nossa geração cretina (conformismo barato).

Mas mesmo eu, com todo meu pessimismo, acredito que um dia, a inspiração venha de súbito, como o satori, e crie algo que realmente valha a pena.

(...) Espero que isso ocorra com você.