Sai daquela velha cidade desolada e fui de encontro as estradas infinitas e rápidas, como veias sanguíneas. Meus pés finalmente experimentaram o que as notas da gaita do velho J. falavam sobre. O asfalto e o sapato se misturaram e se transformaram em som. Corria como Jesse Owens fugindo de Hitler e de todos os membros do KKK. Tap, tap, tap. O sapato batia, discretamente e o chacoalhar da velha mochila improvisava. Subitamente um carro zuniu pelo o vento e eu senti todo o poder daqueles velhos caminhos. Eu era uma nova pessoa, mesmo com sapatos pouco mastigados pelo asfalto.
Continuei meu caminho enquanto ouvia o vento uivando e as montanhas pesadas e exageradas me davam olhares cortantes e furiosos. Eu não tinha medo. Eu era jovem e tinha pernas feitas para correr mais do que um trem enlouquecido. Depois de alguns poucos quilômetros encontrei um pequeno bar de estrada.
Entrei de forma altiva, como um velho lobo das estradas. Ninguém ligou. Todos viviam suas vidas e bebiam tranquilamente suas cervejas. Sentei no balcão e conversei com o garçom. Ele com seus óculos e rugas demonstrava experiência e bondade. Conversamos um pouco e ele perguntou se eu ia beber algo. Pedi por um uísque sem gelo e em poucos segundos já dava minha primeira golada. Ele me contou histórias, eu lhe contei histórias e o uísque me cutucou o cérebro e acendeu uma idéia. Primeiro era que gostaria muito de um cigarro e a outra era que eu necessitava de um mapa. Pedi por ambos para o velho e amável garçom que me cedeu um cigarro amassado que mantinha naquelas orelhas maltratadas e idosas. Deu um grito poderoso chamando algum cliente e algum tempo depois via um cara com uma blusa de botão quadriculada e enorme. Abriu sua boca tristonha e gigantesca e fez seus bigodes longos se moverem perguntando o que o garçom queria. Ele nos apresentou sem muita cordialidade e disse que eu precisava de um mapa. O bigode imenso saiu vagarosamente fazendo sinal que deveríamos esperar. O garçom disse que ele provavelmente iria ao seu velho caminhão tão enorme quanto ele para procurar algum mapa adjacente. Ele voltou apenas com uma garrafa de gim na mão e fez um sinal negativo. Bom, teria que seguir a favor do vento, sem qualquer direção. Seguiria as instruções do velho J. Descer o rio M. pela estrada ## até a primeira cidade grande. Perguntei para o caminhoneiro gordo qual era a próxima cidade. E ele me respondeu resmungando que era N.
Então, abaixe-me e peguei a mochila. Agradeci e dei adeus ao velho garçom que me concedeu um sorriso como resposta. Abri a porta surrada do bar e continuei meu caminho, indo de encontro com o vento que soprava nos meus ouvidos querendo brincar com a gaita do velho J. Tirei-a do bolso e toquei junto com o vento algumas poucas notas. Meu primeiro improviso com um convidado ilustre. Fascinante.
sábado, 21 de julho de 2007
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