quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Dentro de um copo de café, corre um rio amargo

Dentro de um copo de café o jovem se vê enquanto pingos fartos, gordos, enorme feitos do sal da Terra e dos fluidos dos homens caem & levantam alto todo aquele líquido negro. O choque das matérias que obriga uma ou outra ceder mais espaço. Como bombas norte-americanas caindo sobre Hamburgo como mostra a revista sob a mesa. Chega de drama. “Engula essas lágrimas diluídas em café” ele pensa. “Engula seus problemas e faça seu papel de homem. Aja de acordo com as habilidades do intelecto que você nem mesmo pediu a Deus, mas que mesmo assim as possui e deve usá-las”.

Mas ele não consegue e caí dentro daquele café negro enlouquecido flamejante enfurecido. A corrente preta não lhe permite alcançar o outro lado do rio. A televisão alta trucida lhe os pensamentos e ecoa para fora de seus ouvidos. O café lhe afoga com seu vício sensual e tenta lhe expulsar fora do corpo o coração palpitante enquanto a noite que caí sobre sua alma lhe cega absurdamente. Do outro lado do rio fantástico louco feito de sangue, lágrimas, pessoas putrefatas moribundas boiando e café existe um espelho contrário, rachado, distorcido que reflete o que existe as costas do jovem que luta contra toda aquela corrente-insanidade do rio louco lisérgico. É sua família que berra, torce, lhe concebe coragem. Mas para ele, visto daquele prisma-espelho ondulante fora de controle só existe caos, dor, crítica, fúria, lixo. Sua família com punhais ensangüentados e vendas negras. Sua mãe segura nas mãos outro espelho que reflete sua imagem como uma barata. Tudo se distorce numa corrente enlouquecida fantasiosa lacrimosa explosiva!

Ele mergulha e ocupa mais espaço em toda matéria aquática sem sentido insana. Dentro daquela massa líquida licorosa espessa ele se transforma em um cadáver que suavemente silencia o inferno externo. Tudo parece belo, harmonioso, sensual. O silêncio sagrado e estranhamente apoteótico. Mas surgem, explodem; gritos. Esbravejam palavras sem sentido que em ressonância líquida aniquilam a paz antes maciça. Tudo é sonoramente explosivo. Um mar de cornetas, tubas e baterias feitas de TNT, sinos e gongos chineses que ondulantemente desmaterializam tudo aquilo.

E toda matéria, espaço, existência morre, desaparece numa grande queda livre. Fim da linha. O final dos tempos, espaços, espasmos, ejaculações e loucuras. Mas como um milagre religiosamente belo e intenso ou uma concessão telepática de Deus o jovem se torna um pequeno pássaro que escapa alçando vôo fora daquela infinita cachoeira do fim de tudo e nada e nada e tudo novamente. O número zero. E naquele vôo insano fantástico ele se livra de tudo. Passeando por um céu de notas improvisadamente musicais. Enxergando os quilômetros infinitos de distâncias inexistentes entre colunas greco-romanicamente formadas pelas montanhas verdes e vivas como monges zen-budistas a meditar com suas cabecinhas brancas nevadas e fervilhantes. E todos os pássaros, apenas um ou somente o céu azul em ebulição febril com suas nuvenzinhas imaculadamente brancas como os trilhos infinitos recém-desvirginados por trens são o jovem, que nesse exato momento descansa sobre as pedras, disforme, salpicado pela saliva da natureza e confortavelmente regido pela sonora e responsável melodia das águas.

3 comentários:

Tell Her No disse...

uma viagem!

gosteii!!

Anônimo disse...

absolutamente delicioso
tudo aqui.

BrainOrb disse...

chato isso... já tive dias assim.

(to imaginando como estará escrevendo quando estiver apaixonado =P)